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sexta-feira, 21 de novembro de 2025

PÉ DE SERRA - DOUTOR SEVERIANO

 


POR  PATRICIA LOURENÇO DE BESSA

Esse tópico foi escrito a partir de informações obtidas em pesquisa in loco, tendo em vista que a comunidade tem sua história contada por meio da vivência e experiência pessoais da autora na comunidade Pé de Serra. As fotografias de paisagens, arquitetura e os mapas temáticos reforçam suas constatações sobre o papel da cultura na construção de territórios e territorialidades. A comunidade ou sítio Pé de Serra está localizado na zona rural da cidade de Doutor Severiano-RN e surgiu em razão dos empenhos de Vicente Correia de Bessa. Desse modo, é preciso compreender como se deu o processo de territorialização da cidade de Doutor Severiano para adentrar no povoamento da comunidade estudada.

Em meados do século XVIII, o território do hoje município de Doutor Severiano começou a ser ocupado pelos colonos Domingos Lopes Barbalho e os irmãos Caetano de Barros Bezerra e Estevão Álvares Bezerra. Nessa ocasião, recebeu a denominação de “Mundo Novo”. Com a ocupação das terras, a economia local, cuja base era a agricultura, foi se desenvolvendo lenta e gradativamente (Prefeitura Municipal de Doutor Severiano, 2023).

O processo de povoamento foi igualmente lento, se o compararmos com outras vilas e cidades coloniais localizadas na costa atlântica, nas regiões de mineração e nos sertões do gado. Até meados da década de 1940, não havia fora de Mundo Novo qualquer aglomerado humano que pudesse formar uma povoação (Prefeitura Municipal de Doutor Severiano, 2023)

Na década de 1950, Mundo Novo era uma localidade pertencente ao município de São Miguel. Entretanto, em 1953, a localidade recebeu o status de distrito, o que acarretou na mudança toponímica para Doutor Severiano. Em 10 de maio de 1962, por meio da lei estadual nº 2784, Doutor Severiano emancipa-se como cidade, e seu território é desanexado do de São Miguel. A partir de então seus povoados rurais foram surgindo e crescendo (Idem).

De acordo com uma pesquisa in loco, a família Correia foi a primeira a habitar a localidade de Pé de Serra, que atualmente possui uma população com cerca de 200 habitantes e 90 moradas. Entretanto, algumas dessas residências, inclusive mais antigas, não possuem moradores, e por isso não foram mapeadas. Além disso, o topônimo original da comunidade - “Pé de Serra dos Correias” – é um panegírico aos primeiros ocupantes e à paisagem orográfica da região. O sítio está localizado no “pé de um morro”, ou seja, um lugar situado nas bases de um promontório escolhido para implantar as edificações.

Baseando-se nas histórias de antepassados, sabe-se que, por volta dos anos de 1895 e 1900, no local onde hoje temos o açude principal de Pé de Serra havia o “pedregal” (Figura 14) e (Figura 15). Esse lugar localiza-se logo abaixo da parede do açude, sendo caracterizado por muitas pedras e existência de água. Ali, as mulheres lavavam roupas e os homens carregavam água em animais para abastecer suas casas

De fato, o pedregal é um lugar de memória6 , apesar de tomado pelas águas do grande açude quando trasborda no período chuvoso. Esses aspectos naturais relatados, demonstram que os primeiros habitantes escolheram esse lugar para morar, dada a existência de água e da vida que essas terras oferecem.

O perfil dos moradores da comunidade de Pé de Serra é caracterizado pela presença marcante de mulheres, principalmente idosas benzedeiras, senhores repentistas e jovens cordelistas, os quais, apesar do anonimato e sigilo de nomes nessa pesquisa, se destacam nas escolas do município pela criatividade e inteligência, ouvem cantoria, na brincadeira cotidiana criam versos improvisados ressignificam a poética do território por meio da cultura e da materialização da memória em sua arquitetura residencial e apreensão sensível da paisagem.

Conforme informações coletadas no site da prefeitura municipal de Doutor Severiano (2023), desde o surgimento até o tempo presente, as principais atividades econômicas da comunidade são a agricultura, a pecuária e o comércio familiar. Em termos de cultivo, plantava-se arroz, feijão e milho. Outras pessoas cultivavam algodão, sendo hoje inoperante em razão de pragas sucessivas. O Pé de Serra passou por períodos de estiagem. Em meio às adversidades da seca, a comunidade elaborava poços artesianos conhecidos com “cacimbão” e “cacimbas”. Entre 1999 e 2000, foi concluída a construção do açude, amenizando os problemas de abastecimento de água acumulados historicamente.

A infraestrutura conta com iluminação elétrica introduzida na comunidade em 1988, substituindo a iluminação de lamparina e lampião. Até 2020, o ex-prefeito, Francisco Neri de Oliveira, aprovou o projeto de pavimentação das estradas com calçamento de paralelepípedo de pedra granítica. A comunidade está dividida em cinco áreas: Pé de Serra central, Alto, Pé de Serra de baixo, Pé de Serra de cima e os Ribeiros,

As edificações mais importantes eram duas escolas construídas no final dos anos 1980 que, embora no ano vigente estejam fechadas, foram fundadas por Waldir Pires o prefeito que atuava nessa época. O Pé de Serra possuía a Escola Municipal Miguel Ribeiro Machado, fundada no ano de 1989, e uma outra instituição nomeada de Escola Municipal Lupicínio Correia de Bessa, fundada no ano de 1987. Outros equipamentos existiam naquela paisagem, como o posto de saúde José Ribeiro Campos construído, em 1990, na gestão do prefeito Joca Pires.

As escolas Miguel Ribeiro Campos e Lupicínio Correia foram fechadas. Por esse motivo, o sítio permaneceu sem escolas durante muito tempo. Quem quisesse estudar, precisaria se deslocar a outros distritos de Doutor Severiano-RN. Contudo, os esforços políticos e sociais de dois jovens residentes, com o apoio comunitário, possibilitaram o retorno, em 2023, de uma escola de ensino EJA (Educação para Jovens e Adultos). Essa edificação já foi o antigo posto de saúde da comunidade, mas ganhou novo uso escolar depois de passar por uma pequena reforma.

Desde sempre, os moradores se empenharam politicamente com vistas a trazer novamente o ensino para as pessoas que não puderam usufruir desse direito na infância e adolescência. Na Figura 24 e na Figura 25, observa-se a arquitetura da escola de Pé de Serra: volumetria de base retangular, telhado de telha cerâmica com duas águas, uma pequena varanda vedada com portão metálico de ornamentação variada. Trata-se de uma edificação adjunta à escola Sebastião Leite da comunidade vizinha “Sítio Merejo”.

A principal fonte de acesso à informação na comunidade se dava mediante rádio e, posteriormente, televisão. O primeiro aparelho televisivo foi adquirido, em 1990. A dona do aparelho disponibilizava o uso da TV para os moradores locais, tornando o evento um momento de sociabilização. Esses registros do cotidiano são contados pelo povo que viveu tais experiências. Dado os custos da fotografia, essa mídia era utilizada em situações específicas por um pequeno número de vizinhos, mas isso não anula a transmissão da memória social, individual e paisagística de Pé de Serra. Ao contrário, a história oral se converteu num mecanismo no qual se mantém viva a cultura e as recordações.

Outro marco arquitetônico que modela a paisagem é a arquitetura sacra. A capela local, dedicada ao orago São José, é a obra mais recente e continua passando por reformas feitas pelos próprios moradores. A primeira festa foi celebrada, em março de 2013, de forma campal no terreno onde seria erguida a arquitetura sagrada. A construção de fato principiou em agosto do mesmo ano, com a introdução da pedra fundamental no dia 29 do mesmo mês. Além disso, a celebração da primeira missa ocorreu em dia 26 de junho de 2016.

A capela de São José é produto da ação e criatividade do lugar. No frontão escalonado da fachada encontramos a torre sineira, as aberturas e a porta de entrada. Sua planta apresenta uma única nave, cujo acesso se dá pela porta principal, bem como por acessos laterais. Desde então, esse patrimônio se converteu em objeto de afeto e simbólico, pois representa a fé materializada na construção da memória. A representação abaixo (Figura 29) indica a linha do tempo do processo de povoamento e construção da paisagem do sítio, com os principais dados históricos apresentados de forma ilustrativa.

Outro marco da cultura imaterial do Pé de Serra é a festa de São José. Festeja-se o santo, entre 09 e 19 de março, na capela da comunidade. Nessa ocasião, narra-se a história do sítio, mostrando a importância do território e da territorialidade pautados na agricultura, na fé, cultura e na paisagem. As celebrações de 2025 terão como tema “A esperança não decepciona”, sendo representada na gravura elaborada por Gabriela Zanom (2025), artista natural da cidade vizinha de São Miguel-RN.

A procissão de São José acontece sempre no último dia do festejo, com uma caminhada dos devotos pelo lugar. O trajeto inicia no lugar chamado de “Pé de Serra de Baixo” e finaliza na ermida. A procissão é evento performático em que voz, corpo, paisagem e território se entrelaçam num todo harmonioso: devotas e devotos cantam, rezam, movimentam-se e celebram a memória do lugar e a imagem do padroeiro coberto de rosas. Uma missa é rezada após procissão e, em seguida, um leilão encerra a festividade.

A capela foi construída para consolidar as crenças em território santo. Ali são realizadas anualmente, no mês de março, as festas de São José, orago homenageado devido a preces feitas pelas famílias a fim de alcançar a graça da chuva que irriga a terra e propicia a plantação de milho e feijão. É comum encontramos essa tradição de rezar por chuvas em outras povoações e cidades dos sertões do Nordeste brasileiro. Conta a história oral que, se no dia 19 de março chover, haverá bom “inverno”; o contrário também se apl

A primeira casa erguida na localidade pertencia à família do senhor Vicente Correia, sendo executada em taipa de mão (o barro era o material utilizado para a vedação dos tramos formados pela estrutura de madeira). Essa técnica prevaleceu por longas datas na comunidade; porém, foi substituída por edificações estruturadas com técnicas atuais de alvenaria de tijolo. Permanecem a ornamentação simples (ou fachadas desprovidas de decoração) e os telhados de duas e quatro águas com telhas cerâmicas.12

A maioria utiliza alvenaria de tijolo maciço fabricado pela própria comunidade a partir da construção de caieiras, isto é, locais de queima artesanal dos blocos de tijolo. Não há registros contemporâneos dos lugares onde existiam as caeiras, mas os vestígios arqueológicos dessa prática encontram-se no saber da produção e tecnologia do tijolo queimado. Embora não existam mais de forma material, as caieiras estão na memória das pessoas e fazem parte da paisagem cultural do lugar.

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